Dei com este copo magnifico nas Feira-da-Ladra há uns anos e como não tinha dinheiro para ele, piquei o meu amigo Manel para o comprar, coisa que ele não se fez muito rogado, pois gosta muitíssimo de vidros e esta peça, mesmo sem sabermos o que era, apresentava desde logo uma qualidade excepcional.
O Manel regateou e voltou a regatear, comprou e guardou o seu precioso copo e um dia por mero acaso, ao folhear a Enciclopédia de antiguidades, da Editorial Estampa, 2006, p.92-93 descubro três peças com uma tipologia muito semelhante ao copo do Manel e das quais reproduzo aqui em baixo uma das imagens. Telefonei-lhe imediatamente e descobrimos desta forma, que este é provavelmente um copo à la façon de Venise, embora seja difícil dizer exactamente de que período ou centro de fabrico.
Para perceber exactamente o que um vidro à la façon de Venise, designação francesa por que ficou conhecido este trabalho, é preciso recuar um pouco no tempo, ao século V, o período das invasões dos bárbaros, que puseram fim ao Império Romano do Ocidente. Com a queda de Roma, desapareceu do Ocidente Europeu à arte de trabalhar o vidro, que os romanos tanto tinham aperfeiçoado, com a introdução da técnica do sopro.
No Século XIII a arte do vidro reaparece na Europa Ocidental, em Veneza, mediante a instalação naquela cidade de mestres vidreiros vindos de Constantinopla, que ensinaram aos venezianos as técnica mais simples, como as mais complicadas usadas na Ásia para colorir, dourar e esmaltar. Nos finais do Século XIII, para evitar os constantes incêndios, provocados pelos fornos das oficinas, os doges circunscreveram a produção de vidro à ilha vizinha de Murano e mantiveram nesse pequeno espaço os mestres vidraceiros debaixo de um controlo muito apertado. Com efeito, desde essa época o vidro veneziano ganhou uma enorme reputação por toda a Europa. Todos os grandes fidalgos, príncipes e ricos burgueses cobiçavam aquelas peças preciosas que só os Venezianos sabiam fabricar e cujo segredo mantinham com todos os cuidados. As autoridades venezianas proibiram a saída da laguna de materiais ou ferramentas relativas à arte do vidro e todo o mestre vidreiro, que abandonasse Murano era automaticamente considerado como traidor e sujeito à pena de morte se fosse apanhado
Copo à la façon de Venise do musée de Dijon
O prestígio do Vidro veneziano não parou de crescer e no renascimento desenvolveu-se a técnica da filigrana de vidro, que podemos observar neste copo. Contudo no século XVII, os monarcas e príncipes Europeus, à custa de muito ouro, subornaram os mestres de Murano e trouxeram-nos para os seus países, nomeadamente para França, Flandres, Países Baixos, Estados Alemães, Boémia e Inglaterra onde passaram a produzir vidro à maneira de Veneza, com este trabalho precioso de filigrana, moda que se prolongou pelo Século XVIII fora.
Copos à la façon de Venise no musée Curtius, Bélgica
É complicado datar e localizar exactamente o centro de fabrico este copo em particular. Vi dois copos muito semelhantes a estes à venda no Marche aux Puces de Paris. O Louvre vendia réplicas de vidros destes das suas colecções. Enfim, o máximo que se pode adiantar é que é certamente um copo feito à la façon de Venise.
O Manel regateou e voltou a regatear, comprou e guardou o seu precioso copo e um dia por mero acaso, ao folhear a Enciclopédia de antiguidades, da Editorial Estampa, 2006, p.92-93 descubro três peças com uma tipologia muito semelhante ao copo do Manel e das quais reproduzo aqui em baixo uma das imagens. Telefonei-lhe imediatamente e descobrimos desta forma, que este é provavelmente um copo à la façon de Venise, embora seja difícil dizer exactamente de que período ou centro de fabrico.
Para perceber exactamente o que um vidro à la façon de Venise, designação francesa por que ficou conhecido este trabalho, é preciso recuar um pouco no tempo, ao século V, o período das invasões dos bárbaros, que puseram fim ao Império Romano do Ocidente. Com a queda de Roma, desapareceu do Ocidente Europeu à arte de trabalhar o vidro, que os romanos tanto tinham aperfeiçoado, com a introdução da técnica do sopro.
No Século XIII a arte do vidro reaparece na Europa Ocidental, em Veneza, mediante a instalação naquela cidade de mestres vidreiros vindos de Constantinopla, que ensinaram aos venezianos as técnica mais simples, como as mais complicadas usadas na Ásia para colorir, dourar e esmaltar. Nos finais do Século XIII, para evitar os constantes incêndios, provocados pelos fornos das oficinas, os doges circunscreveram a produção de vidro à ilha vizinha de Murano e mantiveram nesse pequeno espaço os mestres vidraceiros debaixo de um controlo muito apertado. Com efeito, desde essa época o vidro veneziano ganhou uma enorme reputação por toda a Europa. Todos os grandes fidalgos, príncipes e ricos burgueses cobiçavam aquelas peças preciosas que só os Venezianos sabiam fabricar e cujo segredo mantinham com todos os cuidados. As autoridades venezianas proibiram a saída da laguna de materiais ou ferramentas relativas à arte do vidro e todo o mestre vidreiro, que abandonasse Murano era automaticamente considerado como traidor e sujeito à pena de morte se fosse apanhado
Copo à la façon de Venise do musée de Dijon
O prestígio do Vidro veneziano não parou de crescer e no renascimento desenvolveu-se a técnica da filigrana de vidro, que podemos observar neste copo. Contudo no século XVII, os monarcas e príncipes Europeus, à custa de muito ouro, subornaram os mestres de Murano e trouxeram-nos para os seus países, nomeadamente para França, Flandres, Países Baixos, Estados Alemães, Boémia e Inglaterra onde passaram a produzir vidro à maneira de Veneza, com este trabalho precioso de filigrana, moda que se prolongou pelo Século XVIII fora.
Copos à la façon de Venise no musée Curtius, Bélgica
É complicado datar e localizar exactamente o centro de fabrico este copo em particular. Vi dois copos muito semelhantes a estes à venda no Marche aux Puces de Paris. O Louvre vendia réplicas de vidros destes das suas colecções. Enfim, o máximo que se pode adiantar é que é certamente um copo feito à la façon de Venise.
Olá Luís.
ResponderEliminarLindo exemplar em vidro!
Desde sempre gostei de vidros. Colecciono mais para para o pobrezito, tenho alguns exemplares da Vista Alegre e alguma coisa em Casca de Cebola,também colecciono jarras, garrafas e copos tipo pixel onde se bebia o abafado.
O Verre à la façon de Venice que posta é deliciosamente belo de uma beleza ímpar até hoje para mim desconhecido. Fiquei perplexa, pelo requinte do lavrado, riqueza das incrustações em amarelo claro, porte muito elegante,design fabuloso...exala tanto romantismo...digno de reis e princesas.
No imediato a hélice fez-me lembrar os glamorosos candeeiros de palacetes, no caso vi há meses no Terreiro do Paço no 1º andar um enorme quando decorria a exposição da GNR e a Republica.
Senti ao admira-lo o peito cheio de alegria.
Beijos
Isabel
Ola Luis, na minha cabeça só passam palavras como "Magnifico", "soberbo", "belissimo", "invulgar", "raro", "lindissimo" e a seguir um grande e suspiro (é feio, mas sabe bem) de quem contempla uma obra de arte...
ResponderEliminarUm beijinho
Marília Marques
Luís,que requinte este cálice "à la façon de Venise"!(já agora, Venice é a palavra inglesa e não francesa)
ResponderEliminarParabéns ao Manel, feliz possuidor da peça. Não me lembro de algum vez ter visto algum à venda, mas já admirei muitas peças destas em museus europeus - museus de artes decorativas, onde quer que eu esteja, não me escapam :)
Recomendo especialmente o Victoria&Albert em Londres,onde têm uma secção só de vidros, desde os vidros da Antiguidade até à actualidade e onde há vitrines cheias destas maravilhas. Para além disso, a secção de cerâmica é fabulosa e foi recentemente toda remodelada. Roo-me toda de frustração por, graças a desventuras recentes, instalação de um alarme e outras despesas, ter q adiar uma ida a Londres q já tinha "fisgada" para um dos próximos meses. É q ainda não visitei este museu depois de concluída a última fase da remodelação na parte de cerâmica.
Veja só onde já vai a conversa...
Tudo isto porq nos mostrou uma peça deslumbrante, ao nível dos grandes museus!
Abraços
Só mais uma achega...
ResponderEliminarFalo muito do museu Victoria & Albert porque ele é certamente o melhor museu de artes decorativas do mundo. E afinal com os voos low-cost, Londres fica mesmo aqui ao lado a um preço muito acessível. Ia lá muitas vezes quando o meu filho lá vivia e as viagens ficavam baratíssimas.
A peça é realmente bonita e, apesar de não ter sido barata, continua a dar-me um prazer muito grande a sua contemplação, o que faço amiúde, talvez pelo encanto sereno que dela emana.
ResponderEliminarTal como tu não consigo ter a certeza da época da sua manufactura, e, as que tenho visto com características algo afins a esta peça, são datadas do século XVII ou XVIII, no entanto esta não me parece que seja tão antiga.
Se me fosse dado escolher (felizmente, no mundo dos sonhos tudo é possível!) teria preferido uma peça semelhante à do Museu de Dijon, que essa sim é fantástica!
Maria Andrade, fiquei algo baralhado com o que refere sobre a origem do termo que define a cidade de Veneza, pois tinha a ideia que o termo terá vindo do latim "Venus", pois, tal como a origem daquela deusa, trata-se de uma cidade nascida das águas. Talvez tenha entendido mal aquilo que refere.
Manel
Manel
ResponderEliminarA Confusão da Venise é minha pois na primitiva versão do post escrevi "Venice" à la façon anglaise...e foi a Maria Andrade que me chamou a atenção para a gralha
Isto de ter vindo por último dá nestas confusões ... lol
ResponderEliminarEstá esclarecido o imbróglio!
Manel