segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Prato e galheteiro em faiança de Estremoz

A nossa seguidora continua a presentear-nos com as peças da sua colecção de faiança. Desta vez enviou-me por e-mail um prato e um galheteiro atribuídos a Estremoz.

Não se sabe grande coisa da Fábrica de Estremoz. Terá laborado entre 1773/4 e 1808. Até há pouco tempo pensou-se que existiram duas oficinas distintas. Hoje acredita-se outra vez, que só houve uma fábrica, mas com dois períodos bastante diferenciados entre si.

Na primeira fase, trabalhou o mestre Sebastião Gavixo (1773/74 a 1775), que tinha aprendido a sua arte no Porto e na Fábrica do Rato e portanto a primeira produção caracteriza-se pelo uso da flor do morangueiro e das faixas de Ruão. Uma parte dessas peças tem a a marca CX ou Estremoz.

A segunda fase dos mestres José Freme da Roza e Joaquim Freme da Roza (1773/74 a 1808.) caracteriza-se pelo domínio da policromia, com o uso de muitos motivos florais miudinhos, geométricos e umas pequenas paisagens muito delicadas. A fábrica terá terminado com a entrada dos franceses em Estremoz em 1808.

As peças da nossa amiga são nitidamente do segundo período.

No catálogo, Cerâmica neoclássica em Portugal. – Lisboa: IPM, 1997, consta um prato do Museu Municipal de Portalegre, inv 629, praticamente igual ao da nossa amiga e que está datado entre 1795 e 1808 (foto inferior).


Quanto ao galheteiro, no mesmo catálogo encontrei uma leiteira do Museu Nacional de Arte Antiga, inv 2365 com um mesmo ar de família e igualmente datado entre os anos de 1795 e 1808.
Embora vivendo nas terras de Vera Cruz, mas conhecedor de tudo o que é site sobre faiança, o Fábio Carvalho enviou-me uma imagem de um galheteiro, também atribuído a Estremoz, que saiu publicado no catálogo duma leiloeira lisboeta.
À laia de conclusão, podemos adiantar que Estremoz tal com Miragaia, Viana, o Rato, Sto António do Vale da Piedade, ou Massarelos, foi mais uma das muitas manufacturas criadas no ambiente favorável das reformas pombalinas e que prosperaram ao longo do reinado de D. Maria. Todas elas entraram profunda em crise com as invasões francesas, mas conseguiram sobreviver com muitas dificuldades, uma parte delas pelo menos até meados do século XIX, excepto Estremoz, que soçobrou de imediato.

8 comentários:

  1. Que coisa rica deve ser a coleção desta sua seguidora! E que maravilha ela nos permitir ver fotos de suas peças, complementadas sempre por suas informações tão instrutivas.
    Tomei a liberdade de novamente lhe mandar imagens de catálogos de leilões com peças de Estremoz.
    abraços!
    Fábio

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  2. Caro Luís,
    Os seus últimos posts têm tido o condão de me deixar sem palavras, mas por motivos diferentes:
    Aquele em q mostra parte da sua casa fotografada através do espelho achei uma beleza, mas o q pudesse dizer não iria acrescentar grande coisa aos comentários q foram surgindo, pelo q me remeti a um silêncio contemplativo e ouvinte; em relação aos dois últimos, receio repetir-me, porq acho q os seus textos são tão esclarecedores que não deixam margem para dizer algo de novo ou de diferente.
    Resta-me acrescentar q assim vamos tendo oportunidade de apreciar peças da nossa melhor faiança q não estão referenciadas em catálogos ou em exposição nos museus, o q agradeço.
    (penso q também já disse isto ou algo semelhante...)
    Abraços

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  3. Olá Luís
    Que pena, a Fábrica de Estremoz, não ter resistido mais tempo.Produzia umas peças muito bonitas, muito suaves.
    Os pratos são muito bonitos, mas a leiteira tem um encanto que não sei explicar.
    Abraços e boa semana
    Maria Paula

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  4. O meu último comentário deu conta dos pesadelos "ornamentais", que nos perseguem por esse Portugal fora, mas graças a ti e à seguidora que te envia fotos das suas fantásticas cerâmicas, equilibra-se a fealdade com peças dignas da melhor tradição da faiança portuguesa.
    Fico meio sem fala com a beleza das peças mostradas, e as quais raro nos é dado ver fora de grandes colecções ou de museus.
    Um bem haja a ambos, pois é necessário remar contra a feladade que nos envolve como tentáculos de monstruoso polvo!
    Manel

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  5. Caros Amigos

    Muito obrigado pelos vossos comentários, que só hoje pude ler.

    Há uns dias estava a conversar com o Manel sobre a seguidora, que nos permitiu visualizar parte da sua colecção e a propósito disso trocámos opiniões sobre a inveja e a admiração.

    Pessoalmente, acredito que todos experimentamos por vezes sentimentos de inveja. Mas, a inveja, que é por principio uma coisa negativa, associada à maldade e à vingança, pode ser convertida num sentimento positivo, a admiração, em que se admite espontaneamente que se gosta das qualidades ou dos objectos dos outros. Se transformarmos a inveja em admiração podemos talvez aprender com as qualidades de quem admiramos.

    No caso da nossa seguidora, que nos permitiu visualizar parte da sua "invejável" colecção, tivemos a oportunidade de aprender mais sobre a faiança e transformar essa inveja numa profunda admiração pelas obras saídas das fábricas de faiança portuguesa nos finais do XVIII, princípios do XIX

    É aliás o sentimento de admiração que nos leva a visitar museus. Não queremos a Custódia de Belém em casa, mas gostamos de vê-la, talvez até mesmo toca-la, mas isso faria disparar os alarmes e por aqui me fico nestas considerações morais

    Abraços a todos

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  6. Cara Maria Paula

    A loiça de Estremoz denota o estilo típico do reinado D. Maria, que se caracteriza sempre por uma decoração, com um certo ar feminino, com muitas grinaldas de pequenas flores e é no geral muito encantador, como a Maria Paula bem sentiu na Leiteira do Museu Nacional de Arte Antiga.


    Abraços

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  7. Boa tarde!
    Estou a fazer um trabalho académico, sobre uma travessa em faiança, que julgo que seja de Estremoz. Gostaria muito que alguém me possa dar mais informações, sobre esta.Como faço para carregar a fotografia
    Obrigada

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  8. Cara Celia

    Na rubrica http://velhariasdoluis.blogspot.com/search/label/Faian%C3%A7a%3A%20Estremoz encontrá mais informações sobre Estremoz, nomeadamente mais fotografias de peças e mais indicações bibliográficas.

    Se quiser enviar fotografias o meu e-mail está no perfil. Mas aviso-a que sou um amador de faiança, não sou historiador de arte ou conservador de Museu

    Abraço

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