sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Ainda a sempre noiva: a Infanta Isabel Luisa Josefa


Quando se encontra a ponta de um novelo, todo o fio vem atrás rapidamente e foi o que me aconteceu com a estampa aqui representada, sobre a qual escrevi em 7 de Setembro. Depois de ter descoberto que se tratava da Infanta Infanta Isabel Luisa Josefa, consegui identificar os seus autores, obter informações sobre a vida e a obra destes, bem como decifrar a iconografia da gravura.

Mas já depois de ter escrito o post, ao folhear a obra A ilustração do livro: Séculos XV a XIX, de Ernesto Soares, publicada em Lisboa, pela Excelcior encontro novamente o retrato da infeliz infanta, que morreu encalhada, como dizem os nossos irmãos brasileiros. Fui ler o respectivo texto e fiquei a saber que esta estampa foi parte integrante de um livro, a Alma instruída, do Padre Manuel Fernandes. De facto, desde há muitos anos que fui tendo sempre a suspeita, que a estampa poderia ter sido o frontispício de um livro. Aliás, julgo que a maioria das gravuras antigas que andam por aí a serem vendidas, fizeram um dia parte de livros.

Depois desta descoberta, fui passear para o site da Biblioteca Nacional e localizei a dita alma instruída, publicada em 3 volumes entre 1688-1699, em Lisboa, na oficina de Miguel Deslandes. A obra foi dedicada à Infanta e os três tomos apresentam frontispícios com a princesa da Beira no meio de figuras alegóricas. A minha estampa foi a que saiu no volume II, publicado em 1690, conforme se pode perceber pelo excerto do registo bibliográfico:

Tomo segundo, que contem a Doutrina do Symbolo dos Apostolos, & Artigos da Fé, até os Mandamentos da Lei. - 1690. - [1] f. grav., [19, 1 br.], 1025 p. - Antes da p. de tít., f. grav. calc. com a Infanta sentada num trono, rodeada pelas figuras da Fé, Esperança e Caridade, e nos degraus do trono dois anjos segurando o respectivo escudo, assin. "Hal... delen", "H. Trudon Effigiem pinx", "G. Edelince Effigies Sculp parisiis..."



Segundo a Grande enciclopédia portuguesa e brasileira, este Padre Manuel Fernandes (1614-1693) era um Jesuíta, autor de manuais de teologia moral e chegou a confessor de D. Pedro II, o que explica porque razão dedicou a esta obra à filha primogénita do Rei.


Agora o meu objectivo é encontrar imagem dos outros frontispícios gémeos do meu, que também representam a Infanta. Infelizmente a Biblioteca Nacional ainda não digitalizou o livro e terei ir procurando aqui e ali, mas se os encontrar imagens mostro-as aqui.

9 comentários:

  1. Prezado Luís,

    Este seu blog é uma delícia! Formidável! Nós, aqui no Brasil,temos poucas imagens dos membros da família real portuguesa. Temos os reis e, menos, as rainhas, mas retratos de seus filhos, aqui, são raros. O Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, MG, tem só um, o de D. José, Duque de Bragança, irmão mais velho de D. João VI. Se quiser, envio a imagem, desde que me indique qual o endereço de e-mail para tal (a cópia está meio grande, então seria conveniente um que aceitasse uma boa transferência de dados).
    Mais uma vez, parabéns pelo blog. E não esqueci do que havia prometido mandar: estou providenciando cópias melhores das imagens.

    Um abraço,

    Pedro Queiroz Leite.

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  2. Venho sempre dar um "olhinho" no seu blog, sou apaixonado pelas faianças, talhas, azulejos e outras artes portuguesas.

    É desnecessário elogiar o blog...já é premiado pela qualidade dos textos e/ou imagens e pelo comentários dos seguidores.

    Bom fim de semana Sr. LuisY

    José Oliveira

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  3. Olá Luís,
    É isto que dá muito gozo quando se lida com gravuras e livros antigos, há um mundo de informação a descobrir e quando se consegue ir mais além é uma satisfação.
    Apetece-me a dizer que vive como peixe na água, sempre rodeado de livros, sempre a passarem-lhe maravilhas à frente dos olhos (que inveja!) e quando não passam o Luís procura…
    Quando pego num livro antigo, a primeira coisa que procuro ver é a data e depois, se não há estampa logo no frontispício, folheio-o para ver se encontro alguma lá pelo meio.
    Geralmente não tenho muita sorte, porque tal como aconteceu com esta, muitas foram arrancadas para emoldurar ou para fazer registos (ou verónicas, como aprendi há pouco consigo).
    Continue a deliciar-nos com os relatos das suas descobertas…
    Boa semana de trabalho

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  4. Caro Pedro

    Envie para o e-mail montalvao.luis@gmail.com.

    Tenho o maior prazer quando recebo comentários do Brasil. Muitas vezes estabeleço trocas de informações muito úteis com as pessoas do outro lado do Atlãntico.

    Abraços

    Luís

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  5. Caro José Oliveira

    Por amor de Deus, esqueça o "Senhor". Trate-me por Luís e é um prazer começar a contar com os seus comentários.

    Abraço

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  6. Caro José Oliveira

    Andei a espreitar o seu blog e descobri que gostas de fotografar janelas e varandas, o que eu acho um encanto.

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  7. Cara Maria Andrade

    Tem toda a razão. O livro antigo e as estampas que o acompanhavam são uma coisa fascinante, pois implicam sempre uma pesquisa, que se aproxima quase da charada.

    Relativamente a esta estampa em particular, estou agora de apetite aguçado para descobrir as suas gêmeas..

    Abraços

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  8. Olá Luis,

    Tem razão, realmente tenho algumas fotografias neste blog portas e janelas (que deveria ser um blog partilhado e que aos poucos fui abandonando...por pura desorganização). Meus interesses são tantos que, mesmo sendo um dos assuntos que mais me fascinam em Portugal (janelas, portas, sacadas...) não sou muito organizado, e juntando a isto o facto de adquirir (tudo o que esteja ao meu alcance "financeiro").
    Assim...juntei umas boas centenas de fotografias de: Pinhas, balaustres, sacadas, portas, figuras, azulejos, mas não fui muito rigoroso na localização e aos poucos vou me perdendo em meio a tanto informação digital e as muitas peças que fui juntando.

    O grande interesse em ler as suas histórias e também dos seguidores é reconhecer nelas os mesmos gostos pelos "ratinhos", as florinhas da vista alegre (tanto que comprei um bule sem asa, sem tampa, sem nada...só mesmo pela tal pintura...risos...tento coleccionar ratinhos, viuva lamego...enfim...um desassossego.

    Creio que qualquer dia ...este seu blog, irá ser um museu digital.

    Espero poder compartilhar algumas fotos quando abrires um novo assunto ou talvez se precisares de alguma imagem sobre faianças, azulejos...recentemente fotografo relevos em fachadas ou figuras alegóricas e inclusive aquele assunto que tratou sobre as caravelas esculpidas...registei muitas por caminhos que vou passando.

    A única situação que acho estranho é que nunca consegui comprar um pechinha, aliás sempre que aproximo de qualquer peça, ela parece automaticamente nascer no séc. XVIII, ser exemplar único e digna de figurar no mais prestigiado leilão...estranho. :-)

    Um abraço

    José

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  9. Caro José

    Ri-me muito com o seu último parágrafo!!!

    Na maioria das vezes apanhamos com comerciantes gananciosos e ignorantes, que afirmam que todas as peças são pombalinas, as faianças todas de Miragaia e os azulejos do século XVII. E se um tipo, na sua ingenuidade lhes tenta faze-los descer á terra ficam ofendidos.

    Mas, com o tempo uma pessoa vai os conhecendo e espera por um dia de chuva, em que os comerciantes querem-se ir embora sem voltar carregados com os trastes e baixam os preços. A crise também fez descer o preço das velharias.

    Muitas vezes escrevo aqui sobre peças de outras pessoas e esse é um aspecto muito frutifero aqui do blog. Falta-me é tempo para escrever sobre tudo o que me enviam, mas gosto de receber no e-mail peças que as pessoas gostam de mostrar.

    Também gosto muito de janelas e portas e recomendo-lhe que visite o bliog da maria Paula, quem sempre óptimas fotografias de janelas e portas http://ascoisasdequeeugosto.blogspot.com e pormenores arquitectónicos.

    Enfim, espero poder contar consigo nesta pequena comunidade de bloguers, bloguistas ou blogueiros como dizem os brasileiros

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